O Plano Safra 2025/26 está sendo considerado pelo governo federal como o mais desafiador dos últimos anos. O principal motivo é o ambiente macroeconômico adverso, marcado pela disparada da taxa Selic, que dificulta a estruturação de um programa de crédito compatível com as necessidades crescentes do agronegócio brasileiro.
Cenário Econômico: Selic em Alta e Pressão Sobre o Crédito
A taxa Selic, que iniciou 2025 em 12,25% ao ano, já alcançou 14,75% e pode chegar a 15% antes do lançamento do Plano Safra, previsto para julho. Essa elevação dos juros básicos encarece todas as modalidades de financiamento rural, inclusive as linhas subsidiadas pelo governo, pois aumenta o custo de captação dos bancos e, consequentemente, o valor necessário para a equalização das taxas de juros – a diferença entre o custo real do dinheiro e o que é efetivamente cobrado do produtor.
Impactos Técnicos para o Produtor Rural
- Custo do Crédito: O aumento da Selic torna o crédito rural mais caro e restrito, reduzindo margens de lucro e dificultando investimentos em maquinário, insumos e infraestrutura.
- Redução da Oferta: Bancos ficam menos propensos a ofertar crédito subsidiado, preferindo aplicações em títulos públicos, o que diminui o volume disponível para o setor agropecuário.
- Pequenos e Médios Produtores: São os mais afetados, pois dependem quase exclusivamente do crédito bancário. Grandes produtores, com acesso a alternativas como CRAs e investidores institucionais, conseguem diversificar fontes de financiamento.
Propostas e Alternativas em Discussão
Diante do orçamento público restrito e da impossibilidade de aumentar significativamente a verba para equalização de juros, o Ministério da Agricultura busca alternativas técnicas:
- Aumento do direcionamento das LCAs: O governo estuda elevar o percentual dos recursos captados via Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) que devem ser obrigatoriamente destinados ao crédito rural, dos atuais 50% para até 80%.
- Linhas de Financiamento em Dólar: Para grandes produtores exportadores, linhas dolarizadas, com juros internacionais mais baixos, ganham destaque. Em 2024, cerca de R$ 8 bilhões foram financiados via BNDES nessa modalidade, com taxas em torno de 8,5% ao ano, sem custo para o Tesouro Nacional.
- Prioridade para Médios e Pequenos Produtores: O governo sinaliza que tentará blindar o Pronamp (médios produtores) e o Pronaf (pequenos produtores) de aumentos mais expressivos nas taxas, especialmente para culturas da cesta básica, como arroz, feijão e mandioca, buscando conter a inflação dos alimentos.
Montantes e Demandas do Setor
- Demanda de Recursos: O setor produtivo, representado pela CNA, pediu R$ 594 bilhões em recursos financiáveis para o ciclo 2025/26, um aumento de 25% em relação ao ciclo anterior, e R$ 25 bilhões apenas para a equalização de juros.
- Orçamento Limitado: O governo, porém, não deve conseguir ampliar significativamente o orçamento para equalização, que em 2024/25 já havia recebido um reforço extraordinário de R$ 3,6 bilhões.
Seguro Rural e Gestão de Risco
A ampliação dos recursos para o seguro rural é outro ponto central. A CNA pleiteia R$ 4 bilhões para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), mas o governo reconhece que será difícil encontrar espaço no orçamento para esse valor, especialmente diante das recentes catástrofes climáticas, como as enchentes no Rio Grande do Sul.
Tendências e Perspectivas
- Aumento de Juros: A elevação das taxas de todas as linhas de financiamento, exceto para o Pronaf, é considerada inevitável. O aumento pode chegar a 1,5 ponto percentual, pressionando ainda mais a competitividade do agro nacional.
- Inovação em Fontes de Recursos: O governo aposta em criatividade para diversificar fontes de financiamento, como linhas dolarizadas e maior participação do BNDES em investimentos, além de buscar avanços regulatórios para destravar recursos privados .
- Modernização e Sustentabilidade: Entre as prioridades estão a ampliação do seguro rural, programas de sustentabilidade (como o RenovAgro), e investimentos em infraestrutura e tecnologia para aumentar a resiliência do setor.
Resumo Técnico
Fator | Situação 2025/26 | Desafio/Impacto |
---|---|---|
Selic | 14,75% (pode chegar a 15%) | Crédito mais caro, menos oferta |
Orçamento para Equalização | Limitado, sem folga para aumento | Dificuldade em manter juros subsidiados |
Linhas de Financiamento | Tendência de aumento de até 1,5 p.p. | Menor competitividade |
Seguro Rural | Demanda de R$ 4 bi, orçamento apertado | Risco climático sem cobertura ideal |
Alternativas | LCAs, linhas em dólar, BNDES | Diversificação de fontes |
Prioridade | Médios/pequenos e alimentos básicos | Tentar blindar de alta de juros |
Conclusão
O Plano Safra 2025/26 será marcado por juros elevados, restrição orçamentária e necessidade de inovação em fontes de financiamento. O governo busca proteger pequenos e médios produtores e estimular linhas dolarizadas para grandes exportadores, mas reconhece que o ambiente de crédito será mais restritivo. O desafio é garantir recursos suficientes para manter a produção, controlar a inflação dos alimentos e preservar a competitividade do agro brasileiro em um cenário de pressão macroeconômica inédita nos últimos anos.