O Míssil que Alcança o Mundo: Como o Jericho III Coloca o Brasil no Radar Nuclear Israelense

Leandro Lemes
4 Min de Leitura

“Até o Brasil está no radar do míssil israelense Jericho 3” — esta afirmação, que parece extraída de um thriller geopolítico, reflete uma realidade estratégica documentada em relatórios militares globais. Com um alcance operacional entre 4.800 km e 6.500 km 19, o Jericho III (designado YA-4) é a espinha dorsal da dissuasão nuclear israelense e uma das armas mais avançadas do Oriente Médio. Desenvolvido para substituir o modelo Jericho II, este míssil balístico de propelente sólido entrou em serviço em 2011 após testes iniciados em 2008 12.

Características Técnicas: A Engenharia de um Gigante Nuclear

  • Design e Propulsão: Com 15,5–16 m de comprimento1,56 m de diâmetro e peso de 29.000 kg no lançamento, o míssil Jericho 3 utiliza três estágios de propelente sólido 14. Essa arquitetura permite lançamentos rápidos, sem a demora de abastecimento de combustíveis líquidos.
  • Capacidade Nuclear: Transporta uma ogiva única de 750 kg, com potência estimada entre 150–400 quilotons (10–26 vezes a bomba de Hiroshima). Relatórios sugerem capacidade MIRV para múltiplos alvos, usando guiamento inercial independente de GPS 14.
  • Mobilidade Estratégica: Pode ser lançado de silos subterrâneosvagões ferroviários ou veículos TEL (Transporter-Erector-Launcher), garantindo sobrevivência a ataques preventivos 12.

Alcance Geopolítico: Do Irã ao Brasil

Jericho 3 alcance máximo (6.500 km) cria um “círculo de dissuasão” que abrange:

  • Oriente Médio: Todo o Irã, Arábia Saudita e Paquistão.
  • Europa Ocidental: Capitais como Paris e Berlim.
  • África: Regiões ao norte do Congo.
  • AméricasPartes do Nordeste brasileiro e costa leste dos EUA 415.

Mapa Mental do Alcance:

|── Oriente Médio (100% coberto)  
|── Europa (≥ 80% do território)  
|── Ásia Central (Rússia até os Urais)  
|── África (Norte e Subsaariana ocidental)  
└── Américas (NE do Brasil, Caribe, América do Norte)  

Contexto Histórico: Da Guerra do Yom Kippur às Ameaças Atuais

A família Jericho nasceu nos anos 1960 com colaboração franco-israelense (Jericho I), mas ganhou urgência estratégica durante a Guerra do Yom Kippur (1973), quando Israel quase implantou mísseis nucleares Jericho I contra Egito e Síria 2. O Jericho III é a resposta contemporânea a ameaças como:

  • Programas balísticos do Irã (Shahab-3, Khorramshahr).
  • Riscos de ataques de grupos como o Hezbollah.
  • Necessidade de uma “segunda chance” nuclear após um primeiro ataque.

Por Que o Brasil Está no Raio de Ação?

Embora Israel não tenha o Brasil como alvo, o alcance técnico do míssil Jericho III inclui o território brasileiro devido a:

  1. Geometria Orbital: Trajetórias de teste sobre o Mediterrâneo atingem distâncias equivalentes ao Atlântico Sul.
  2. Demonstração de Força: Capacidade simbólica de projeção global.
  3. Contingência: Em cenários de conflito total, bases aliadas na América do Sul poderiam ser alvos hipotéticos 15.

Dados Não Divulgados e Atualizações

  • Jericho 3A: Testes em 2013 e 2019 sugerem uma variante com novo motor e maior precisão 14.
  • Armazenamento: Os misseis Jericho III são guardados em cavernas subterrâneas em Zacharia, a sudoeste de Tel Aviv, em instalações à prova de ataques 12.
  • Status Nuclear: Israel mantém política de ambiguidade nuclear, mas especialistas estimam 50 ogivas compatíveis com o sistema 4.

Conclusão: O Peso Estratégico de um Titã Silencioso

Jericho III não é apenas um míssil balístico—é um instrumento de sobrevivência nacional para Israel. Seu alcance transcontinental redefine equilíbrios de poder, e sua existência serve como um lembrete austero: em um mundo multipolar, até nações menores podem projetar força a distâncias continentais. Para o Brasil, estar no raio de ação é um acidente geográfico, mas para o Irã, é uma realidade estratégica diária.

Fontes: CSIS Missile Threat Project 1, Arms Control Association 9, Análises do El Español 4, Wikipedia (versões em inglês/espanhol) 213.

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